A NEUROSE COLETIVA E A UTILIZAÇÃO DA PILULA ANTICONCEPCIONAL
A neurose coletiva tem como característica a ação influenciada por muitos indivíduos na dimensão social, que “padroniza” o comportamento coletivo. A “regra” desta neurose poderia descrever como: ‘eu faço porque todo mundo faz’. Esta atitude coletiva parece isentar o indivíduo de uma responsabilidade pessoal diante de uma escolha. Elizabeth Lukas, psicóloga alemã, apresenta um quadro explicativo sobre este padrão comportamental:
Atos semelhantes hábitos semelhantes “espírito da época”
de muitos de muitos é a atitude comum de muitos
“O indivíduo que irrefletidamente obedece ao espírito da época não tem necessidade de decidir, de certa forma, a totalidade dos outros decide por ele”, afirma Elizabeth.[1]
A modalidade da contracepção na perspectiva psico – social parece caminhar para o fenômeno da neurose coletiva. A decisão de muitos acaba por influenciar a decisão pessoal no que se refere a escolha do método a ser utilizado para planejar uma gestação. Na China, por exemplo, é muito comum a utilização do DIU. Segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), publicada em junho de 2008, no Brasil a esterilização por laqueadura e em seguida o anticoncepcional são os métodos mais utilizados.
A decisão semelhante de muitas pessoas parece oficializar determinada escolha. A impressão é que se muitos decidem de maneira semelhante transmite-se então para o individuo certo grau de segurança para a sua escolha pessoal. Neste sentido, decidir diferente exigirá da pessoa uma superação da dependência das escolhas coletivas para a autonomia das decisões. Na neurose coletiva a pessoa também abre mão do exercício da própria liberdade de escolha que ficará restrita a opções dos outros. Apesar de muitas mulheres realmente acreditarem que estão fazendo uso de sua liberdade ao decidirem pela utilização do anticoncepcional, na realidade elas estão diante de escolhas restritas. Na área da contracepção nem sempre é fácil decidir diferente, pois o planejamento familiar permea o preparo profissional dos agentes de saúde pública. O profissional da área da saúde carece muitas vezes da capacitação, até mesmo em nível acadêmico, para oferecer métodos diferentes daqueles denominados como artificiais.
Na prática médica quando o assunto é planejamento familiar alguns métodos são mais fáceis para serem prescritos . A pílula anticoncepcional não exige muito tempo do profissional, durante a consulta, para informar à paciente a forma de ser utilizada. No entanto, é rara ou quase nula a orientação por parte destes profissionais de apresentar aos casais o recurso e o acesso aos métodos dito naturais e que é reconhecido pelo Governo Federal de nosso país como sendo uma opção de planejamento familiar. Apresentar o método natural para o casal como recurso de planejamento familiar exigiria do profissional da área da saúde um treinamento adequado e disposição destes em dispor de maior tempo para informar e acompanhar a mulher e seu esposo.
Felizmente está aumentando em nosso país o número de médicos que conhecem a eficácia e os benefícios dos métodos naturais. Estes profissionais encaminham o casal para instituições com instrutores capacitados como é o caso das unidades da Cenplafam (Confederação Nacional de Planejamento Natural da Família), espalhadas por todo o território nacional. No Cenplafam o casal aprende a reconhecer o padrão de fertilidade e infertilidade de cada ciclo feminino através do ensino do método Billings. Dr Erick Odeblad, que foi um dos cientistas que auxiliou o casal Billings afirmou o seguinte sobre a “pressão” social exercida sobre a mulher em relação aos contraceptivos hormonais: “Para responder a essas pressões é necessário conhecer e entender a fisiologia cérvico-vaginal da adolescente. Assim seremos capazes de tratar de mulheres jovens de modo que elas não sejam iludidas e, por causa disso deixem de usar o Método de Ovulação Billings. Elas irão superar as dificuldades e usar o método pelo resto de suas vidas. Também é importante a propagação do Método de Ovulação para a próxima geração de mulheres e famílias”[2]. Nos Congressos promovidos no Brasil pela Cenplafam, a co-fundadora desta instituição Ir. Martha Bering incentivava os instrutores a ensinar para as adolescentes a beleza do método de ovulação Billings. Adolescentes instruídas sobre este método tendem a perceber a dignidade e a maravilha do próprio corpo e são “fortalecidas” a viverem a castidade que tantos benefícios traz para o equilíbrio da própria personalidade.
Segundo dr. John Billings, se desejamos uma sociedade sadia, somos chamados a investir na família, principalmente na área do planejamento familiar. Em sua obra “ O dom da vida e do amor”[3], Billings afirma: “ A liberdade proveniente de uma técnica de planejamento familiar segura, inofensiva e moralmente legal, capacita-nos a tornar-nos construtores de uma sociedade sã sobre a terra”.
[1] LUKAS, Elizabeth. A força desafiadora do espírito. Loyola. 1989, p. 38
[2] ODEBLAD, Erik. A descoberta de diferentes tipos de muco cervical. Paulus. 1996, p. 47
[3] BILLINGS, John. O dom da vida e do amor. Loyola. 1987, p.34