VENTRE DE MÃE
A barriga se acentuando, os seis intumescidos, os olhos mais que brilhosos, as mãos que apalpam o ventre a cada pouco, são características próprias das mães que estão gestando. Momento único na vida da mulher, parecendo às vezes “mentira” tamanho obra acontecendo no meu corpo, gerando “carne da minha carne”, história da minha história.
A valorização da maternidade encontra-se em declino, talvez por falta de testemunho de mães que experimentaram esta graça e hoje se apegam mais no “trabalho” que filho dá. Mas ainda encontramos pessoas, homens e mulheres, que acreditam na vida, como mostra-nos esta sentença judicial expedida pelo Juiz de direito João Baptista Herkenhoff, no Espírito Santo na década de 70:
“Despacho libertando Edna, que foi presa portando 10 gramas de maconha, durante o nono mês de gestação, tal era o estado da sua gravidez que preferiu não se sentar, porque sentia muita dor sentada”.
João Baptista Herkenhoff
“A acusada é multiplicadamente marginalizada: por ser mulher, numa sociedade machista; por ser pobre, cujo latifúndio é os sete palmos de terra dos versos imortais do poeta; por ser prostituta, desconsiderada pelos homens, mas amada por um Nazareno que certa vez passou por este mundo; por não ter saúde; por estar grávida, santificada pelo feto que tem dentro de si, mulher diante da qual este Juiz deveria se ajoelhar, numa homenagem à maternidade, porém que, na nossa estrutura social, em vez de estar recebendo cuidados pré-natais, espera pelo filho na cadeia. É uma dupla liberdade a que concedo neste despacho: liberdade para Edna e liberdade para o filho de Edna que, se do ventre da mãe puder ouvir o som da palavra humana, sinta o calor e o amor da palavra que lhe dirijo, para que venha a este mundo tão injusto com forças para lutar, sofrer e sobreviver.
Quando tanta gente foge da maternidade; quando milhares de brasileiras, mesmo jovens e sem discernimento, são esterilizadas; quando se deve afirmar ao Mundo que os seres têm direito à vida, que é preciso distribuir melhor os bens da Terra e não reduzir os comensais; quando, por motivo de conforto ou até mesmo por motivos fúteis, mulheres se privam de gerar, Edna engrandece hoje este Fórum, com o feto que traz dentro de si.
Este Juiz renegaria todo o seu credo, rasgaria todos os seus princípios, trairia a memória de sua Mãe, se permitisse sair Edna deste Fórum sob prisão.
Saia livre, saia abençoada por Deus, saia com seu filho, traga seu filho à luz, que cada choro de uma criança que nasce é a esperança de um mundo novo, mais fraterno, mais puro, algum dia cristão. Expeça-se incontinenti o alvará de soltura”.
Esta pequena historia homenageia todas as mães que escolheram gerar vida, as mães que sofrem a perda de seus filhos mortos e aquelas que sofrem por vê-los semi-mortos pelos vícios, todas as mães que tiveram a coragem de levar a gravidez até o fim apesar do diagnóstico de deformidades físicas e mentais, aquelas que se espelham na Santíssima Virgem Maria para conduzir seus rebentos pequenos ou grandes e devolve-los um dia ao Pai Eterno. PARABÉNS MÃE.
Denise M. Peixer Safanelli
Fundadora da Comunidade Bom Pastor