MAIORIDADE PENAL
Estava lendo uma matéria na revista Família Cristã do mês de junho e lembrei-me do João. A história deste adolescente que passou por nosso caminho há uns quinze anos atrás me vez refletir sobre o título deste escrito.
Eu trabalhava na Ação Social de Guaramirim, entidade que fundamos em 1987, eu e meu esposo Reinaldo com outras pessoas da cidade, envolvidas em entidades civis e religiosas e interessadas em organizar o atendimento á famílias e ou pessoas em situação de vulnerabilidade. Na ocasião recebíamos adolescentes e adultos que prestavam serviço à comunidade encaminhados pelo poder judiciário e os acompanhávamos durante o período determinado, supervisionado por uma assistente social do Fórum.
O João (nome fictício) chegou a nós num estado de extrema rebeldia, tinha mais ou menos 14 anos e havia se envolvido em várias situações ilícitas. Não se encaixava em nada que tínhamos de serviço na entidade e estava incomodando muito nosso trabalho. Um dia pedi a minha colega de trabalho Catarina que deixasse ele a auxiliar em pequenos serviços dentro da entidade como limpeza na sala do clube de mães da entidade. Para nosso espanto ele pediu-lhe que o ensinasse a bordar ponto cruz e ela assim o permitiu.
No decorrer dos dias deste aprendizado percebemos que ele queria mesmo é ficar perto de alguém que lhe dispensasse atenção. Investimos no João, ensinamos ele a ir buscar pequenas compras no comércio, depois fazer serviço de banco para a entidade e para uma empresa cuja família colaborava com a Ação Social, até que ele foi contratado por algum tempo pelo Banco do Brasil em um programa de aprendiz. Ele foi um dos muitos menores que acompanhamos e vimos que quando bem conduzidos e atendidos é possível mudar o rumo de suas vidas, se não cem por cento deles, mas uma parcela considerável responde ao acompanhamento.
Hoje não tenho notícia do João, mais tenho certeza que o lugar dele aos 14 anos não era na cadeia e sim precisava de acompanhamento e atenção. Sei que a opinião é divergente quanto a redução da maioridade penal, pois convivo com uma família onde o pai foi assassinado por um menor e a dor e o medo são constantes, mas temos que conferir estatísticas reais e não tendenciosas, ler sobre o assunto e nos posicionarmos com a razão e não sob efeito de pressão, tendo em vista um sistema carcerário excludente e sendo uma escola para marginalização, não de recuperação.
Se nos abrirmos para a ação, acolhendo como Igreja, família e sociedade, e exigirmos dos governantes ações no sentido de recupera-los, renascem a esperança de terem melhores oportunidades. A tarefa é provocadora, também para mim e para minha comunidade.
Na celebração do Lava pés de 2013 o Papa Francisco lavou os pés de 12 menores no Instituto Penal para Menores Casal del Marmo, em Roma e disse-lhes:“Estou feliz de estar aqui com vocês. Sigam em frente e não deixem que lhe roubem a esperança”
Que o Bom Pastor que dá Vida em Abundância nos ajude neste discernimento e nos encoraje em nossa vocação nata para acolher e amar.
Denise M. Peixer Safanelli- Fundadora da Comunidade Bom Pastor