Se tirarmos o amor, o sexo se transforma em mera prostituição
O bom relacionamento sexual na vida do casal é de fundamental importância para a sua harmonia. A primeira necessidade é conhecer o sentido da vida sexual no plano de Deus. O sexo tem duas dimensões na vida conjugal: unitiva e procriativa. A dimensão unitiva significa que o sexo é um meio de unidade do casal. Mais do que nunca é no relacionamento sexual que eles se tornam “uma só carne” . O ato sexual, para o casal, é a mais intensa manifestação do seu amor; é a celebração do amor no nível afetivo e sensitivo. Portanto, não pode haver sexo sem profundo amor; ele só pode ser vivido no casamento, porque só no casamento existe um compromisso de vida para toda a vida e a responsabilidade de assumir as suas consequências, especialmente os filhos.
O que faz do sexo algo perigoso e desordenado é exatamente o seu uso fora de uma realidade de manifestação de amor. Se tirarmos o amor, o sexo se transforma em mera prostituição: sexo sem amor, sem compromisso. Aquele que usa da prostituta não tem responsabilidade sobre ela; não se importa se amanhã ela estará doente, desempregada, passando fome ou morrendo de AIDS. Ela foi apenas um instrumento de prazer, que foi alugado por alguns instantes. É o grande desvirtuamento de uma das realidades mais lindas criadas por Deus. Se ao criar todas as coisas, “Deus viu que tudo era bom” (cf. Gen 1,10), também o sexo, já que foi feito com a bela finalidade de gerar a vida e unir os esposos. Se ele fosse sujo, em si mesmo, a criança não poderia ser tão bela e inocente. Nossos filhos vieram ao mundo porque tivemos relações sexuais. Deus, na Sua sabedoria, quis assim; quis que, no auge da celebração do amor do casal, o filho fosse gerado, para que este não fosse apenas “carne da carne dos pais”, mas “amor do seu amor”. A Igreja sempre viu com olhos claros esta realidade. São Paulo, há vinte séculos, já dava orientação segura aos fiéis de Corinto sobre isso: “O marido cumpra o seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido.
A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence a seu marido. E da mesma forma o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo, por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e depois retornais um para o outro, para que não vos tente Satanás por vossa incontinência” (I Cor 7, 3-5).
Com essas orientações o apóstolo dos gentios mostra a legitimidade da vida sexual no casamento e até pede que os casais não se abstenham dela por muito tempo, dizendo: “Não vos recuseis um ao outro”. E pede que cada um “cumpra o seu dever” para com o outro. Como não ver nessas palavras do apóstolo um pedido aos cônjuges, para que satisfaçam as legítimas aspirações do outro? É claro que a luz a guiar este relacionamento há de ser sempre o amor e nunca o egoísmo.
Haverá épocas na vida do casal em que a relação sexual será impossível. Quando a esposa está grávida, já próximo de dar à luz, após o parto, quando passa por uma cirurgia, entre outros. Nessas ocasiões, e em muitas outras, por bom senso, mas também por caridade para com a esposa, o esposo há de respeitá-la.
O fato de o sexo ser legítimo no casamento,– e só no casamento –, não quer dizer que nele “vale tudo” como se diz. Não somos animais irracionais; aliás, nem os animais irracionais fazem estrepolias em termos de sexo. Ao contrário, são extremamente naturais. A moral católica se rege pela “lei natural”, que Deus colocou no mundo e no coração do homem. Aquilo que não está de acordo com a natureza, não está de acordo com a moral. Será que, por exemplo, o sexo oral ou anal estão de acordo com a natureza? Certamente não.
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos ensina o seguinte: “Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos. Quando realizados de maneira verdadeiramente humana, testemunham e desenvolvem a mútua doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido” (CIC, 2362; GS, 49). Tenho ouvido esposas que se queixam dos maridos que as obrigam a fazer o que elas não querem nem aceitam no ato sexual. Neste caso, será uma violência obrigá-las a isso. Aquilo que cada um aceita, dentro das características psicológicas de cada um, não sendo uma violência à lei natural, pode ser vivido com liberdade pelo casal.
É legítimo que o esposo prepare a esposa para que haja a harmonia sexual; isto é, ambos atingirem juntos o orgasmo. O esposo deve se guiar exatamente pela orientação da esposa, que saberá mostrar-lhe naturalmente o que ela precisa para chegar ao orgasmo com ele. Não é fácil, muitas vezes, o ajustamento sexual do casal; e, algumas vezes, precisa-se de anos para que ele aconteça. Também aí há de haver a paciência e a bondade de um para com o outro, para ajudá-lo a superar as suas dificuldades. Mas tudo se resolve se houver esses ingredientes.
(Trecho do livro “Família, santuário da vida” do professor Felipe Aquino).